Vista do Botafogo Praia Shopping - Janeiro de 2020 |
Semana passada precisei ir ao Rio para resolver algumas pendências, exames, consultas médicas. A última vez que estive na cidade foi em janeiro, pelos mesmos motivos. Tenho feito alguns acompanhamentos após a cirurgia realizada em outubro do ano passado.
Estava com saudade de andar pelas ruas, ir aos lugares costumeiros, saudade da rotina antiga que me acompanhou por tantos anos.
Mas uma questão que me chamou muito a atenção foi perceber a quantidade de pessoas morando nas ruas. Passei por diversos bairros e a situação se repetia da mesma forma, independente do lugar. Famílias inteiras acomodadas embaixo de marquises, idosos, bebês, crianças, adultos, jovens, homens, mulheres, adolescentes... Imagens de cortar o coração.
Uma realidade dura e cruel ver tantas famílias passando por essa situação. Ninguém escolhe viver na rua e passar fome, passar necessidades básicas como um lugar para dormir, se higienizar, se proteger da chuva e do frio.
Sempre houve pessoas em situação de rua, mas o que ressalto é como a quantidade de pessoas necessitadas aumentou pós pandemia.
Copacabana é um mar de pessoas necessitadas. Penso que muitas perderam seus empregos e não tiveram condições de bancar um aluguel e foram despejadas de suas casas. É uma situação sofrida demais!
Estive na Carioca, na região do Centro e a realidade é a mesma. Muitas crianças pedindo ajuda para comprar alimentos, ajuda para comprar doces para vender no sinal. Aí a gente colabora da forma que é possível, né?
Conversei com um garotinho de uns 9 anos que pedia em frente a uma loja de doces. Ele desejava vender os doces para levar dinheiro para casa. Estava acompanhado por um outro menino de idade próxima a dele. Falei com ele para se cuidar, vender os doces e não fazer nada errado que pudesse prejudicá-lo de alguma forma. Sei que muitas dessas crianças sofrem horrores vivendo nas ruas, sem acesso à uma educação adequada que possa orientá-las a ter uma vida melhor.
Me sinto impotente perante situações como essas. São muitas pessoas vivendo em condições sub-humanas, de sofrimentos diversos, de privação de uma vida digna.
Um contraste social que vem se banalizando a cada dia que passa, situações que se tornam costumeiras aos olhos de quem vê diariamente as mesmas cenas pelas ruas. Um cotidiano que se transforma em violência pelas cidades, principalmente nas grandes cidades como o Rio. A necessidade leva ao roubo, à agressão, não que a violência possa ser justificada por tais questões, mas sabemos que leva à situações extremas.
Não sinto que seja possível para mim ficar imune à necessidade alheia. Sinto um incômodo gigantesco e sei que minhas condições são limitadas, mas sempre que possível eu colaboro de alguma forma. Sei que não é uma atitude que vá resolver o problema da outra pessoa de forma definitiva, mas ao menos ameniza por algum instante. É como colocar um curativo em um ferimento que precisa de pontos...
Estava angustiada com esses pensamentos a respeito da minha sensação de presenciar a atual situação calamitosa que se encontra o Rio. Ainda não tinha visto tantas pessoas morando na rua em grupos tão grandes. Fiquei refletindo sobre essa questão e precisei colocar para fora de alguma forma.
Sei que minha escrita não vai ajudar as pessoas que precisam de auxílio nesse momento. Mas uma pequena atitude de doar um alimento, um agasalho, um calçado, já alivia um pouco a dor de quem está necessitado.
Rio, quantos contrastes são possíveis perceber em um mesmo lugar? Vejo a cidade (que antes maravilhosa) abafar suas dores e mazelas sob um rótulo que não lhe veste mais tão bem. Desejo que ela volte a ser um lar para tantas pessoas que escolheram (ou não) viver suas vidas embaladas pela sua atmosfera encantadora.
Fui uma dessas pessoas fisgadas pela sua aura que me encantou anos atrás quando escolhi viver por lá. E espero também voltar em breve.