sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Não Subestime Sua Dor


Desde o início meu ciclo menstrual sempre foi um período doloroso, sentia muitas cólicas e incômodos. Comecei cedo a tomar pílulas anticoncepcionais por recomendação médica, para regularizar o ciclo que era bastante irregular. Anos e anos se passaram, as dores sempre vinham mais fortes e o fluxo cada vez mais volumoso. Sentia dores incapacitantes, que me deixavam de cama. 

Ouvia dos ginecologistas que era normal, todo mundo sente cólicas... "É normal, toma deocil quando a dor aparecer." E era sempre a mesma coisa, todos os meses. Me lembro que em 2010/2011 tive crises fortíssimas e que precisei ir ao pronto atendimento receber medicação venosa para contornar as dores. A dor se concentrava na maior parte das vezes na região do cóccix, era como se ele fosse se partir em dois.

Com o passar do tempo troquei de ginecologistas e sempre ouvia que as cólicas eram normais. Comecei a tomar a pílula anticoncepcional contínua, para aumentar o intervalo de tempo entre um ciclo menstrual e outro e assim, passar menos tempo sentindo dores. Fui "aprendendo" a conviver com a dor que sentia, por mais difícil que fosse...

Em março deste ano estava com minha consulta ginecológica de rotina marcada, mas aí veio a pandemia e meu médico desmarcou. No mês de maio eu já não aguentava mais sentir as dores que vinha sentindo, a pílula parecia não mais segurar a menstruação, tinha muitos escapes e as dores eram certas. Entrei em contato com meu médico, relatei a minha situação e consegui ser atendida no final de maio. No exame de toque ele percebeu um nódulo endurecido no canal vaginal. Foi um exame muito doloroso. Ele suspeitou que eu poderia ter adenomiose e solicitou uma ressonância magnética pélvica com contraste. O resultado do exame foi assustador pra mim: estava completamente tomada por focos de endometriose por toda a região. Diagnóstico: endometriose profunda com acometimento intestinal. 

Meu ginecologista me encaminhou para uma especialista em endometriose para que eu fosse submetida ao procedimento cirúrgico. Junto com a ginecologista precisei me consultar também com um proctologista, devido ao acometimento do intestino grosso. O procto solicitou uma colonoscopia para avaliar detalhadamente a situação da endometriose no intestino. 

Sei que entre exames, consultas e pandemia o processo foi bastante demorado. Comecei essa maratona no final do mês de maio. Muitas coisas aconteceram nesse intervalo de tempo. A cirurgia foi marcada para o dia 21 de setembro e quase na véspera o hospital realizou o teste de covid (procedimento padrão em tempos de pandemia). Meu teste deu positivo, minha cirurgia foi desmarcada e fiquei em isolamento durante 15 dias. 

Ok! Cumpri o isolamento, não desenvolvi sintomas da doença e fiquei bem. A cirurgia foi remarcada para o dia 20 de outubro e dessa vez deu certo! Fui submetida a uma laparoscopia, procedimento minimamente invasivo. São feitos 3 pequenos cortes na região abdominal (um em cada lateral e outro a  uns 9 cm abaixo do umbigo) e outro corte de mais ou menos 1,0 cm dentro do umbigo. A cirurgia demorou cerca de 4 horas. Um fator positivo foi que não precisou remover nenhum pedaço do intestino, a endometriose estava apenas na superfície e foi feita uma raspagem para remoção dos focos.

Me lembro que quando despertei da anestesia, ainda no centro cirúrgico, a única coisa que senti foi uma dor gigantesca no umbigo, doía muito mesmo! Além do frio absurdo! 

A internação durou um pouco mais de 24 horas, fui pra casa no dia seguinte. Segui à risca o repouso e a dieta passada pela nutricionista. Nessa cirurgia o abdômen é inflado com gás (dióxido de carbono) para melhorar a visualização e o cirurgião possa ter acesso aos órgãos. Nos primeiros dias após a cirurgia senti muito incômodo com o estufamento, mas aos poucos o gás vai sendo liberado pelo organismo. Ainda hoje sinto que meu abdômen não voltou ao normal, está distendido. 

Hoje, 20.11.2020 está completando 30 dias que realizei o procedimento cirúrgico para remoção de endometriose profunda com acometimento intestinal. Minha recuperação está sendo ótima, dentro do esperado, sem nenhuma reação negativa. Estou cuidando da ferida cirúrgica do umbigo que já está quase 100% curada. 

O que gostaria ainda de relatar é que não subestime sua dor, se notar qualquer sintoma exagerado insista com seu médico para investigar. Demorei muito tempo para receber um diagnóstico adequado para o que eu sentia, mais de 15 anos sentindo dores que me diziam ser normais. 

Endometriose é uma doença séria e de difícil diagnóstico, não tem cura mas é tratável. O que não é aceitável é viver com dores incapacitantes que afetam e muito a rotina e a vida como um todo. Ouvir certas coisas do tipo "é frescura!", "ah, é apenas uma cólica!", "é preguiçosa!", são julgamentos que não agregam em nada, não dê ouvidos e procure ajuda médica adequada.

14 comentários:

  1. Oi Eliana,
    Nossa que bom que está a se recuperar...
    Qualquer tipo de cirurgia nunca é fácil mas eu sempre soube que endometriose incomoda muito! olha nem vale a pena ouvir pessoas que fazem pouco caso da dor do outro. k

    Então... a semana passada subi a serra pra nós a serra é meio que faz parte do nosso cotidiano a estrada para a subida mudou bastante para melhor! a paisagem está deslumbrante! fecharam muitas lojas mas tbm abriu muitas novas.
    Tem turistas que pegam o avião e vão até caxias então não conhecem as belezas; antes de chegar a gramado fizestes o certo o melhor é ir ate porto alegre e pegar um carro por lá é ir subindo e conhecendo as cidadezinhas como morro Reuter, Dois irmãos e muitas outras k.
    Lá em Nova Petrópolis tem uma floricultura que vou muito.
    Essas minhas Hortências são de Gramado kkk.
    Abraços e tenhas uma boa continuação de semana e se cuida...
    Obrigada pela visita.

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    1. Que bom te ver por aqui, Janice!

      Concordo com você, qualquer tipo de cirurgia, por menos invasiva que seja, não é fácil! Mexe muito com a gente, emocionalmente falando... além do físico.

      Mas enfim, você mora numa região muito linda! Tenho vontade de visitar essas bandas aí novamente. Gramado é um encanto, parece uma cidadezinha dos contos de fadas. Canela também cheguei a visitar, muito rapidamente. O sul do Brasil é lindo!

      E suas hortênsias, ahhh que maravilhosas!

      Um forte abraço!

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  2. Morei com u'a mulher que sofria com
    isso e eu, como você, Eliana, corri
    atrás da solução e hoje, pelo que sei
    da moça, vive como se nunca tivesse
    passado por isso.
    Um beijo, e parabéns pelo texto.

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    1. Oi Silvio,

      É grande o número de mulheres acometidas pela endometriose, e assim como eu, boa parte recebe o diagnóstico tardio, quando a doença já se alastrou pelos órgãos reprodutivos.

      Que bom que essa moça vive melhor hoje após o tratamento. É reconfortante saber que existe melhora após a cirurgia e que é possível viver sem as dores.

      Um abraço!

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  3. Olá, Eliana!

    Encontrei, casualmente, o seu blog e vim espreitar. Estive lendo alguns posts seus e gostei da diversidade dos mesmos e da forma como estavam escritos. Você se expressa muito bem. Parabéns!

    Pois é, quando temos dores, que não conseguimos saber de onde vêm e quais as suas causas, todo o mundo manda bitaites. Você fez muito bem em seguir os conselhos médicos. Pena é que os ginecologistas que a seguiram não vissem esse nódulo logo.
    Felizmente que agora você está quase a 100% e se recuperando muito bem.

    Continuação das suas melhoras.

    Beijos e saúde! Se cuide!

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    1. Oi Céu,

      Que bom ler o seu comentário! Agradeço pelas palavras. Escrever tem suas vantagens, é uma atividade relaxante e faz um bem danado!

      Sobre a minha questão, realmente demorou muito para ser descoberta e tratada. Infelizmente nem todos os médicos são bons profissionais. Assim como em qualquer outra profissão, tem as pessoas excelentes no que se propõem a realizar, enquanto outras estão ali apenas para cumprir um papel.

      Mas enfim, a vida segue!

      Um abraço!

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  4. Oi Eliana! Vc voltou a postar!Só posso imaginar o que vc sentia...não dar pra se acostumar com dor de jeito nenhum...é incrível que nenhum dos médicos que vc consultou tenha pensado nesta possibilidade. Mas graças a Deus vc fez a cirurgia e deu certo! Um abraço!

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    1. Oi Ane,

      Minha atenção estava voltada para a recuperação da cirurgia, me senti sem vontade e sem condições de permanecer em frente ao computador para escrever, nem tinha posição para ficar sentada de forma adequada.

      O diagnóstico foi muito tardio, mas felizmente ele veio. Sinto-me mais tranquila agora diante da melhora da situação.

      Obrigada por estar aqui!

      Um abraço!

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  5. Gente, isso é tão verdade! O pior é que os médicos, muitas vezes nos levam a subestimar nossas dores. Infelizmente. Sei de mais de um caso em que médicos disseram que era nada, nos fizeram parecer "frescas" e era algo sério. Eu é/era uma dor no abdome tb, mas na parte superior. O último gastro acabou me dando um remédio meio "para os nervos". Fui numa médica de família e ela ficou horrorizada. Resultado? Era uma úlcera!!! Que me perdoem, mas hoje em dia a gente tem que desconfiar muito dos diagnósticos e procurar uma segunda ou terceira opinião. Fique bem e boa recuperação!

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    1. Nossa, Cris!

      Triste isso... Concordo com você, é fundamental buscar outras opiniões sim. Receber um diagnóstico errado e tratar um problema que não existe, enquanto o motivo real permanece encoberto e muitas vezes, piorando o quadro.

      Quando o assunto é saúde, a gente não pode tratar como uma coisa qualquer. Viver sentindo dores não é nosso estado natural, o corpo manifesta a dor pois é a forma de nos mostrar que algo está errado.

      Fique bem!

      Um abraço!

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  6. Oi Eliana, tudo bem? Menina que coisa, por isso você deu uma sumidinha, tomara que esteja bem melhor já. Ninguém aguenta sentir dores, eu já tive muita cólica e uma vez novinha tive que ir tomar soro. Tinha ovários Micro policísticos...agora to na fase da pré menopausa, nem te conto kkkk
    Eu tinha excluído meu blog pensei em para mas deu saudades...ai suei pra recuperar tudo. Agora to nesse endereço ;) ! bjs

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    1. Oi Adriana,

      Agora me sinto bem melhor sim, o tempo ajuda na recuperação. Conviver com dores não é o ideal de vida de ninguém, né? Nós, seres humanos do sexo feminino enfrentamos situações de saúde que tantas vezes dificultam a vida cotidiana, e os hormônios sempre influenciando nessa questão.

      Que bom que não desistiu do blog, gosto de acompanhar suas postagens. Desejo que siga firme sem desanimar.

      Um abraço!

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  7. Eu sempre tive muita cólica e tomei muitos remédios ao longo da vida, também tomava anticoncepcionais. Então, nos últimos anos antes da menopausa, eu sangrava sem parar, chegando a sair pedaços de sangue. Fiz ressonância da pelve, como você, mas não deu nada. Fiz outros exames invasivos, nada. Como eu tenho câncer e tomo alguns anticonvulsivantes, não sei até que ponto isso teria a ver. Mas nenhum dos 3 ginecologistas relacionou nada. Um dia, parou do nada e estou há 3 anos sem menstruar. Beijo

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    1. Oi Sol,

      São tantas as situações pelas quais somos submetidas. É triste ter que conviver com dores que podem ser tratadas e amenizadas. Me parece que não estamos imunes a esses problemas todos, diagnósticos errados, tratamentos inadequados, problemas que passam despercebidos.

      Mas felizmente também encontramos no caminho profissionais que conseguem nos auxiliar de forma correta.

      Felizmente esses problemas ginecológicos têm prazo de validade para acabar... Demora, mas passa.

      Um abraço!

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