sábado, 19 de dezembro de 2020

Transitoriedade

"Precário, provisório, perecível
Falível, transitório, transitivo
Efêmero, fugaz e passageiro
Eis aqui um vivo, eis aqui um vivo..."
(Lenine)

Já faz alguns dias que venho ensaiando sentar em frente ao computador e escrever um pouco, mas estava me sentindo um tanto quanto desconcentrada, a mente agitada e os pensamentos acelerados. 

O corpo vai sentindo o peso e o pesar do final de ano. Final de ano com uma epidemia em andamento. Sinto uma angústia em relação à isso, ao que me parece ainda longe do fim.

Tantas coisas fortes e marcantes aconteceram no decorrer do ano, que tenho uma sensação de ter vivido dez anos em um. Para mim o tempo tem passado arrastado. 

Vivo a minha experiência pessoal, assim como cada um também vive a sua própria experiência. Posso apenas sentir o que vivo na minha própria pele. De um modo geral (no meu contexto), venho tentando ressignificar minhas experiências (as mais pesadas) vividas até aqui. Sem a intenção de lançar um papo de "good vibes". Senti a necessidade de desenvolver positivamente meus pontos de vista sobre as situações que têm me acontecido, e a partir daí ressignificá-las.

Nos últimos meses (entre setembro e dezembro) estava em ensino remoto, não a trabalho, mas como estudante. Sou professora e também sou aluna. Já faz alguns anos que concluí minha primeira graduação no Curso Normal Superior (pela Unimontes - Universidade Estadual de Montes Claros), tempos depois me especializei em Educação Infantil (pela Puc Rio) e recentemente resolvi voltar a cursar uma segunda graduação também na área educacional, Pedagogia (pela Uerj - Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Quase concluinte!

Tivemos aula presencial apenas na primeira semana de março, antes da pandemia. Com a chegada da pandemia paramos tudo e ficamos todo o primeiro semestre sem aulas. Tempo necessário para a Universidade reorganizar o currículo e tomar as medidas cabíveis para a retomada das aulas de forma remota, chamado de Período Acadêmico Emergencial (PAE). Então o período teve andamento, concluímos enfim o semestre 2020.1 na última sexta feira (11.12).

Na minha experiência, longe de ser um dos melhores semestres de estudo. Tive dificuldades em me adaptar às aulas, organizar o tempo de estudo e de leitura. Fiz o melhor que pude com as ferramentas que eu tinha. A internet caindo e a conexão ruim, o computador que resolveu dar vários pitis sem querer ligar ou desligando por vontade própria. Aos trancos e barrancos dei o meu melhor e compreendi  de coração a situação dos professores tendo que se adaptar a toda uma mudança na forma de trabalhar.

Também sou professora e senti na pele como foi difícil adaptar o trabalho com as crianças pequenas. Não foi nada simples pensar em estratégias de adaptação de conteúdo para lidar com o ensino remoto com crianças de Educação Infantil. Meu trabalho teve término em maio, quando perdi meu emprego pela falta de alunos que pouco a pouco foram se desligando da escola. 

Então nesses últimos meses estava imersa nas leituras acadêmicas, tirando o melhor proveito das aulas da forma que era possível. E nas últimas semanas tive uma grande quantidade de trabalhos para entregar com o encerramento do semestre. Com tudo isso senti um cansaço mental e dificuldade de me concentrar. Li alguns livros fora do contexto acadêmico para espairecer as ideias e ouvi muita música. 

Diante de toda a transitoriedade da vida estamos finalmente chegando ao fim desse ano abarrotado das mais diversas vivências. E escrever essas breves palavras hoje já me trouxe uma boa sensação de esvaziamento de peso da minha mente (por vezes) conturbada de tantos pensamentos.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Não Subestime Sua Dor


Desde o início meu ciclo menstrual sempre foi um período doloroso, sentia muitas cólicas e incômodos. Comecei cedo a tomar pílulas anticoncepcionais por recomendação médica, para regularizar o ciclo que era bastante irregular. Anos e anos se passaram, as dores sempre vinham mais fortes e o fluxo cada vez mais volumoso. Sentia dores incapacitantes, que me deixavam de cama. 

Ouvia dos ginecologistas que era normal, todo mundo sente cólicas... "É normal, toma deocil quando a dor aparecer." E era sempre a mesma coisa, todos os meses. Me lembro que em 2010/2011 tive crises fortíssimas e que precisei ir ao pronto atendimento receber medicação venosa para contornar as dores. A dor se concentrava na maior parte das vezes na região do cóccix, era como se ele fosse se partir em dois.

Com o passar do tempo troquei de ginecologistas e sempre ouvia que as cólicas eram normais. Comecei a tomar a pílula anticoncepcional contínua, para aumentar o intervalo de tempo entre um ciclo menstrual e outro e assim, passar menos tempo sentindo dores. Fui "aprendendo" a conviver com a dor que sentia, por mais difícil que fosse...

Em março deste ano estava com minha consulta ginecológica de rotina marcada, mas aí veio a pandemia e meu médico desmarcou. No mês de maio eu já não aguentava mais sentir as dores que vinha sentindo, a pílula parecia não mais segurar a menstruação, tinha muitos escapes e as dores eram certas. Entrei em contato com meu médico, relatei a minha situação e consegui ser atendida no final de maio. No exame de toque ele percebeu um nódulo endurecido no canal vaginal. Foi um exame muito doloroso. Ele suspeitou que eu poderia ter adenomiose e solicitou uma ressonância magnética pélvica com contraste. O resultado do exame foi assustador pra mim: estava completamente tomada por focos de endometriose por toda a região. Diagnóstico: endometriose profunda com acometimento intestinal. 

Meu ginecologista me encaminhou para uma especialista em endometriose para que eu fosse submetida ao procedimento cirúrgico. Junto com a ginecologista precisei me consultar também com um proctologista, devido ao acometimento do intestino grosso. O procto solicitou uma colonoscopia para avaliar detalhadamente a situação da endometriose no intestino. 

Sei que entre exames, consultas e pandemia o processo foi bastante demorado. Comecei essa maratona no final do mês de maio. Muitas coisas aconteceram nesse intervalo de tempo. A cirurgia foi marcada para o dia 21 de setembro e quase na véspera o hospital realizou o teste de covid (procedimento padrão em tempos de pandemia). Meu teste deu positivo, minha cirurgia foi desmarcada e fiquei em isolamento durante 15 dias. 

Ok! Cumpri o isolamento, não desenvolvi sintomas da doença e fiquei bem. A cirurgia foi remarcada para o dia 20 de outubro e dessa vez deu certo! Fui submetida a uma laparoscopia, procedimento minimamente invasivo. São feitos 3 pequenos cortes na região abdominal (um em cada lateral e outro a  uns 9 cm abaixo do umbigo) e outro corte de mais ou menos 1,0 cm dentro do umbigo. A cirurgia demorou cerca de 4 horas. Um fator positivo foi que não precisou remover nenhum pedaço do intestino, a endometriose estava apenas na superfície e foi feita uma raspagem para remoção dos focos.

Me lembro que quando despertei da anestesia, ainda no centro cirúrgico, a única coisa que senti foi uma dor gigantesca no umbigo, doía muito mesmo! Além do frio absurdo! 

A internação durou um pouco mais de 24 horas, fui pra casa no dia seguinte. Segui à risca o repouso e a dieta passada pela nutricionista. Nessa cirurgia o abdômen é inflado com gás (dióxido de carbono) para melhorar a visualização e o cirurgião possa ter acesso aos órgãos. Nos primeiros dias após a cirurgia senti muito incômodo com o estufamento, mas aos poucos o gás vai sendo liberado pelo organismo. Ainda hoje sinto que meu abdômen não voltou ao normal, está distendido. 

Hoje, 20.11.2020 está completando 30 dias que realizei o procedimento cirúrgico para remoção de endometriose profunda com acometimento intestinal. Minha recuperação está sendo ótima, dentro do esperado, sem nenhuma reação negativa. Estou cuidando da ferida cirúrgica do umbigo que já está quase 100% curada. 

O que gostaria ainda de relatar é que não subestime sua dor, se notar qualquer sintoma exagerado insista com seu médico para investigar. Demorei muito tempo para receber um diagnóstico adequado para o que eu sentia, mais de 15 anos sentindo dores que me diziam ser normais. 

Endometriose é uma doença séria e de difícil diagnóstico, não tem cura mas é tratável. O que não é aceitável é viver com dores incapacitantes que afetam e muito a rotina e a vida como um todo. Ouvir certas coisas do tipo "é frescura!", "ah, é apenas uma cólica!", "é preguiçosa!", são julgamentos que não agregam em nada, não dê ouvidos e procure ajuda médica adequada.